Deixaria neste livrotoda minha alma.Este livro que viuas paisagens comigoe viveu horas santas.
Que compaixão dos livrosque nos enchem as mãosde rosas e de estrelase lentamente passam!
Que tristeza tão fundaé mirar os retábulosde dores e de penasque um coração levanta!
Ver passar os espectrosde vidas que se apagam,ver o homem despidoem Pégaso sem asas.
Ver a vida e a morte,a síntese do mundo,que em espaços profundosse miram e se abraçam.
Um livro de poemasé o outono morto:os versos são as folhasnegras em terras brancas,
e a voz que os lêé o sopro do ventoque lhes mete nos peitos— entranháveis distâncias. —
O poeta é uma árvorecom frutos de tristezae com folhas murchadasde chorar o que ama.
O poeta é o médiumda Natureza-mãeque explica sua grandezapor meio das palavras.
O poeta compreendetodo o incompreensível,e as coisas que se odeiam,ele, amigas as chama.
Sabe ele que as veredassão todas impossíveise por isso de noitevai por elas com calma.
Nos livros seus de versos,entre rosas de sangue,vão passando as tristonhase eternas caravanas,
que fizeram ao poetaquando chora nas tardes,rodeado e cingidopor seus próprios fantasmas.
Poesia, amargura,mel celeste que manade um favo invisívelque as almas fabricam.
Poesia, o impossívelfeito possível. Harpaque tem em vez de cordaschamas e corações.
Poesia é a vidaque cruzamos com ânsia,esperando o que levanossa barca sem rumo.
Livros doces de versossão os astros que passampelo silêncio mudopara o reino do Nada,escrevendo no céuas estrofes de prata.
Oh! que penas tão fundase nunca aliviadas,as vozes dolorosasque os poetas cantam!
Deixaria no livroneste toda a minha alma...
Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'Tradução de Oscar Mendes
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Este é o Prólogo
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